A VEIA DO POETA

A VEIA DO POETA

A veia do poeta é grossa, profunda. Hora corre muito sangue, muito rápida. Hora ela se enche de um vazio profundo e melancólico. Os olhos, o nariz, as mãos do poeta parecem pequenos diante de toda a emoção do universo. Mas são nessas mãos que o mundo, o de dentro e o de fora, se concentra quando ele resolve fazer um verso. Quem faz poesia consegue traduzir direto da alma algo que, como disse a Cecília Meireles, ninguém explica… Mas não há quem não entenda.

Tenho me reencontrado com a poesia, não como escritora, que nunca fiz um poema do qual gostasse ( e olha que já fiz muitos ). Mas como leitora. Geralmente, meus encontros com a poesia acontecem naquela praça estranha e um tanto sombria, onde eu vou sempre sozinha, e demoro a voltar. Nunca vi um poema que não fosse triste… Ainda que essa tristeza esteja em uma ou outra entrelinha da entrelinha. Quando estou meio assim, sem saber direito o que posso querer da vida, só há três coisas que eu posso fazer: comprar uma caixa de lápis de cor, comer morango com chantily e ler muitos poemas.

Segue um pouco de Paulo Leminski. Eu poderia dizer algo sobre ele, mas é só clicar aí pra saber. Por hora, só me lembro que ele já morreu, foi casado com uma poetisa e teve uma filha chamada Estrela. As palavras dele tem uma intenção direta e forte. Eis:

“Nesta vida, pode-se aprender três coisas de uma criança:
estar sempre alegre,
nunca ficar inativo
e chorar com força por tudo o que se quer.”

“a noite – enorme
tudo dorme
menos teu nome.”

” esta vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem.”

“quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como seu eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante”

“hoje à noite
lua alta
faltei
e ninguém sentiu
a minha falta”

“coração
PRA CIMA
escrito em baixo
FRÁGIL”

“vazio agudo
ando meio
cheio de tudo”

“morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma”

“um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante

carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha

ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra”

“Amor, então,
também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.”

“mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.”

“não discuto
com o destino

o que pintar
eu assino”


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18 comentários sobre “A VEIA DO POETA

  1. aqui em curitiba, no começo de novembro, vai aconter um festival inter-colegial de teatro, acho que você iria gostar bastante do nosso, é claro que eu não posso contar como é, mas o nome é bem sugestivo: Poemas e Formas.
    De Leminski, é só essa aqui que aparece:
    ” esta vida é uma viagem
    pena eu estar
    só de passagem.”
    Tenta aparecer por aqui, to precisando de outros amigos aqui comigo. bjus

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  2. Gostei especialmente do primeiro trecho, do que se pode aprender com uma criança… grande Paulo!
    Quer dizer que a Mafalda está entrando nos “enta”? Parabéns pra ela!
    E você? Tudo bem?
    Beijocas!

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  3. oi Mafalda crescida e sumida.Leminski, fazedor de hai-kais lindos.Gosto muito dele. O poeta é um ser inexplicável.A poesia não tem explicação né.Por mais que vc tente, sempre faltará algo.A alma é complexa.Amo poesias já que não sei escrevê-las, pelo menos posso admirar quem faz com maestria.

    A Mafalfa está bem né?Será que ela anda fazendo bottox?

    rs

    beijos e apareça minha querida. Tem café e biscoitos

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  4. Lindinha, também gosto muito de poesia. De ler e de tentar escrever. Poesia é explicar o inexplicável, é ver o invisível, ouvir o inaudível. Poesia é linguagem especial que conseguimos ouvir melhor com o coração. Obrigada pela oportunidade de lembrar… beijoca.

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  5. Oi vim te dar os parabéns pelos 40 anos, achei q vc pudesse se esquecer, queria dar a notícia e tal. Mas claro que vc não ia deixar passar em branco. Tenho Mafalda agora na minha cabeceira da cama pois comprei um livro com as tirinhas. Tenho me divertido muito mesmo. Beijos. bom domingo.

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  6. Muito bacana essa seqüência de poemas do Leminski. Li quase tudo dele, mas nunca li em nenhum livro este poema que eu adoro postar no meu facebook: Nesta vida, pode-se aprender três coisas de uma criança:
    estar sempre alegre,
    nunca ficar inativo
    e chorar com força por tudo o que se quer.”
    Tem como vocês me informar em qual livro está publicado este poema? bjs

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