AGENDA CULTURAL DE FÉRIAS

Longe de mim querer fazer o que a minha querida Dani já faz tão bem. E nem quero bancar a resenhista, muito menos crítica de arte ou gastronomina. Apenas quis deixar registrado aqui coisas legais que vivi nas minhas românticas e bem aproveitadas férias de janeiro, ou um bocadinho antes. Espero que possa servir a vocês, pessoas queridas, finas, elegantes e sinceras, para que se animem a passear muito, porque há muita coisa boa a ser olhada e sentida por aí. 🙂

EXPOSIÇÃO

“Imagino o artista num anfiteatro
Onde o tempo é a grande estrela.
Vejo o tempo obrar a sua arte,
Tendo o mesmo artista como tela…”

Eu fui, já sabendo que não ia sair como entrei. Já contei aqui o quanto amo toda a obra desse artista incrível chamado Chico Buarque ( “Esse Grande Amor“, de 08 de fevereiro ). Imagina o que foi pra mim saber que fragmentos da vida e das idéias de alguém que eu tanto admiro estavam expostos a alguns quilômetros da minha casa… Não podia deixar de ir. Fui correndo.

A exposição Chico Buarque: O Tempo e o Artista, sob curadoria de Zeca Buarque Ferreira, foi montada para comemorar os sessenta anos do cantor, escritor e portador de adoráveis olhos claros. Já andou no Rio de Janeiro, e agora chega a São Paulo, abrigada no ambiente bonito, chique e de ótimo gosto do Sesc Pinheiros. Um passeio emocionante, não só pra quem gosta do Chico, mas pra quem tem o mínimo de interesse na história cultural e musical do Brasil. Bem cuidada, moderna e com um invejável apoio multimídia, ela não deixa de ser poética, simples e envolvente.

Claro, uma exposição sobre a vida de alguém é o óbvio. Imagens e papéis escritos, fotografias e documentos. Nesse sentido, nada de muito novo se pode ver. Mas dentro do óbvio, o surpreendente. Fotos de um Chico menino, no colo dos pais, com os amigos, com as filhas e esposa, na escola, na faculdade, cantando, escrevendo. Um bilhete de um menino de 8 anos para os avós. A observação de uma professora esperta profetizando que ali, no aluno menino, estava um futuro grande homem de letras. O depoimento do pai, Sérgio Buarque, dizendo que o filho não é tímido e certinho coisa nenhuma. Rascunhos de letras de música, correpondências datilografadas dos amigos ( uma delas, hilária conversação entre Chico e Vinícius sobre a letra da canção “Valsinha” ), uma intimação para depor, parecer da censura, um jornal da escola mimeografado, uma ameaça escrita do CCC, o discurso originalíssimo do orador da turma. Uma cidade imaginária desenhada, um jogo de futebol sem regras, caderninhos com pensamentos, bilhetes, capas de disco, e uma carta de Clarice Lispector, onde ela falava sobre o seu desejo de que aquele Chico nunca perdesse a candura que lhe era tão inerente; candura essa que ela mesma decidira esconder. E como se não bastasse, duas salas de vídeo ( onde pude ver aquele rosto sorridente olhando em meus olhos e cantando, “você nasceu pra mim…”… Não segurei uma lágrima de felicidade )… E um computador com fone de ouvido, para xeretar um software com TODAS as letras e músicas do artista, para se ouvir à vontade. Nunca quis tanto trazer algo pra casa quanto aquele computador.

O mais lindo de tudo é perceber que o tempo, implacável em passar sem esperar ninguém, vai construindo em alguém com alma de artista uma história que dura pra sempre, na emoção que sente, expressa, e toca o coração das outras pessoas. O artista nunca morre… Alcança o infinito, como diz a música escolhida para dar nome à exposição. Os poetas do tamanho do Chico – ele bem disse – como os cegos… Podem ver na escuridão. E trazem a luz para a vida de outras pessoas.

Se você mora em Sampa, vá correndo. Se não, viaje e venha ver. Lindo.

“No anfiteatro, sob o céu de estrelas,
Um concerto eu imagino…
Onde, num relance, o tempo alcance a glória,
E o artista, o infinito.”

MÚSICA
Coisas boas surgem de vez em quando, coisas ruins brotam aos montes toda hora, e coisas maravilhosas acontecem de vez em nunca quando o assunto é música. Mas eu sou daquelas que acham que ter música por perto é sempre bom, mesmo quando a música é ruim. Por pior que seja, sempre se aproveita alguma coisa. Se a música for boa, melhor ainda.

Nessas férias, guiada pelas mãos e ouvidos de alguém especial que agora me acompanha, reencontrei o prazer de ouvir aqueles moços de Liverpool, os Beatles. Não é só porque eles são gênios do rock, inovadores no jeito de tocar e nas experimentações que faziam. Não é só porque venderam toneladas de discos e marcaram a história da música pop mundial. E nem porque a união entre o Lennon e o McCartney resultou em composições que dosavam poesia e força em volumes iguais. Também não é porque o George Harrison, meu beatle preferido, era doce e meigo no seu jeito de tocar e nas letras amáveis que escrevia.

Ouvir Beatles é muito bom porque aquilo é música de verdade… Simples assim. Ouçam, ouçam e ouçam.

***

E o meu lado popularíssimo amou ganhar de presente o novo cd do Roupa Nova, que entrou na onda do Acústico e produziu um cd que não tem jeito de não agradar a quem um dia curtiu cantar “Sapato Velho” e “Linda Demais”. O grupo, famoso pelas baladas românticas rasgadas ( clássicas dos programas de rádio que traduzem “Endless Love” todos os dias na hora do almoço ) mostra que continua afinado, e através de arranjos musicais super harmoniosos, canta e toca ao vivo com extrema competência aquelas velhas canções que muita gente gosta – ainda que não admita em público. No repertório escolhido para o cd, todas aquelas que foram top hits e algumas experimentações, sem fuga do estilo. Já praticamente furei o cd de tanto ouvir e fiquei rouca de tanto cantar alto. Pra quem gosta, prato cheio.

TELEVISÃO

Em tempos de tanta porcaria, é uma grata surpresa assitir a microssérie Hoje é Dia de Maria. Vários e vários pontos positivos fazem dessa superprodução global um dos melhores compêndios televisivos de cultura popular. Direção, sensível e competente. Escolha do elenco, perfeita. Os bonecos do grupo Giramundo e os figurinos de papel de Jum Nakao, suntuosos e deslumbrantes. Fotografia, de cair o queixo. Trilha sonora, delicadíssima. As histórias e cantigas tradicionais do povo brasileiro foram bem tratadas e ganharam vida bonita nas atuações de pessoas como Osmar Prado, Letícia Sabatella e aquela gracinha de menina talentosa, Carolina Oliveira. E claro, tem o Rodrigo Santoro. Ai. Hehe.

Nessas horas a gente pára e pensa: se são capazes de colocar no ar uma pérola como essa, por que as emissoras insistem em exibir coisas como Luciano Huck, novelas xexelentas e a maior porcaria de todas – o tal de Big Brother – no horário nobre? Pena de nós… Pena.

CINEMA

Brad Pitt, George Clooney, Andy Garcia e… Bruce Willis. Sonho de toda mulher? Sim. Desfilando ali na tela de cinema… Pertinho. Trama interessante, passatempo divertido e despretensioso e colírio para os olhos. Ai, ai. É Doze Homens e Outro Segredo. Minha amiga leitora, se ainda não viu… Vá. Já!

COMIDA

O restaurante mais antigo de São Paulo é uma cantina italiana. No coração do Bexiga, a uns passos da praça da igreja, a cantina Capuano é tradicionalíssima. Na parede rústica, fotos antigas de imigrantes italianos e lembranças boas. A toalha xadrez, a música italiana de fundo, o ambiente pequeno, mas acolhedor ( perfeito para um romance ) e o excelente atendimento só reforçam o sabor delicioso das massas e carnes do cardápio. E quer saber o melhor? O preço não é uma exorbitância. Muito pelo contrário. Nham.

Agora, se a intenção é bater um papo em lugar charmoso altas horas da madrugada, tranquilamente e saboreando coisinhas deliciosas como sopinhas, pãezinhos e saladas, vale a pena dar uma corrida até a Lapa e visitar a Dona Deôla. A padaria de esquina é aconchegante e serve pães e bolos deliciosos, além do jantar, onde você, depois de pagar alguns reais, come até cansar. Dizem que o café da manhã também é de pedir bis. Bom pra começar ou pra fechar a noite. Destaque para o bolo de limão e para o caldo verde, ambos maravilhosos.

TEATRO

Ao ver um de seus filhos, ainda bebê, dormindo no berço, Jorge Amado pôs-se a imaginar uma história emocionante e instrutiva com a qual pudesse presenteá-lo. E foi assim, com o amor mais puro de um pai, que ele escreveu o belíssimo conto O Gato Malhado e A Andorinha Sinhá.
Tanto tempo depois, a história ganha a direção cuidadosa e delicada de Wladimir Capella e vira uma das peças de teatro mais lindas que eu já vi. Tocante do começo ao fim, os cenários e figurinos tecnicamente perfeitos enfeitam a atuação impecável e o roteiro fiel e bem escrito sem ofuscar o mote da história de amor impossível entre a andorinha rebelde Sinhá e o gato vagabundo Malhado. Apaixonados, eles tentam enfrentar a sociedade e as regras injustas para viver um romance pouco usual, mas intenso e carregado de beleza e poesia. A trilha sonora é bem cuidada e merece destaque, especialmente a canção tema do casalzinho.
Diz lá no prospecto que a peça é infantil. E é mesmo. Mas eu, que já fui ver algumas vezes, vi muito marmanjo saindo com os olhos inchados de tanto chorar. Espetáculo no sentido mais amplo da palavra.

Resumo da ópera… A gente quer comida, diversão, balé e tudo que tem direito. Eu mereço, vocês merecem. É ou não é?

14 comentários sobre “AGENDA CULTURAL DE FÉRIAS

  1. Vi o filme e gostei bastante, é melhor que o primeiro, acho. A minissérie, no final, é o que salva a Globo de um fracasso artístico absoluto, porque realmente é linda.

    Beatles… eu adoro. Musicalmente nem todas as músicas são realmente boas, nem são exceções, são uma grande quantidade, mesmo, que peca terrivelmente. Mas é tão lesgau. E tem uma outra parcela de uma fase mais madura, pós-Sgt. Peppers, que é mais arrumada, mais inteligente e bonita. Qualquer fase deles, de todo modo, fica sendo boa e faz lembrar como o pop-rock hoje em dia é quase completamente muito ruim.

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  2. se quiser passar um carnaval diferente e tranquilo, passe lá no meu bog que vc vai saber onde encontrar um carnaval assim. Longe de batucadas, de axé e de mela-mela.

    Aguardo vc.

    Folia com clima ameno e ao som de boa música.

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  3. É! miga querida, adorei td, realmente tem mta coisa boa pra se fazer em São Paulo, e pelo jeito vc tem aproveitado bastante.

    Vc é a única pessoa que eu conheço que consegue ouvir Beatles, Chico Buarque e Roupa Nova no mesmo dia….kkkk… Uma figura, inteligente, e olha, tenho que dizer, vc só não vira jornalista se não quiser, e se aceita um conselho, deveria querer.

    Bjo!

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  4. Chico = fantástico

    Beatles = amor antigo

    Roupa Nova = lembranças, muitas lembranças

    12 homens = amei…

    Gato Malhado = li nos tempos do ginásio ( sim, sou desse tempo)e dei ao meu filho. a peça não assisti

    Maria = simplesmente genial, tocante e grande lição de vida

    Qto às comidas, me espera aí em Sampa e me leva lá pra que eu possa comentar

    Beijos, Karina

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  5. Nossa, só coisas boas hein amiga! e bem acompanhada ficam ainda melhores.

    A exposição está fantástica, fui vê-la aqui no Rio e amei. Linda, emocionante, maravilhosa. Ah! creio que não existem palavras para descrever tudo aquilo.

    Pelo jeito foram dias perfeitos…Fico feliz que tenha curtido muito essas férias.

    Beijos e tenha um final de semana maravilhoso!

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  6. Boas as exposições. Pena que eu não me liguei muito na minissérie, pois parecia primorosa. O áudio, entretanto, deixava a desejar… 😦 De longe se nota que é algo que vale muuuuuuuuito mais a pena do que o nefasto BBB.

    Chico é sensacional. Tb gosto muito das músicas dele. Um artista de grande sensibilidade, belo trato das palavras e músicas suaves. Excelente pedida.

    O filme dos carinhas tb é legal, entretém. Obviamente que, para mim, o colírio fica por conta da Catherine Zeta-Jones. Rererere.

    Beijos. :-***

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  7. Me apaixonei por “Hoje é dia de Maria”, foi uma surpresa e tanto. Todos os dias deveriam ser de Maria, assim assistiríamos coisas boas na tv. Eu acabo me acostumando com as porcarias e esquecendo o quanto pode ser melhor. Não esqueço mais. Aguardo ansiosamente o dvd.

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