COMPANHIA

Eu adoro as palavras. Adoro. Adoro porque elas conseguem me ajudar a pensar quando estou só. Adoro porque, ao entendê-las, entendo o que sinto, e isso me dá muita paz.

Esses dias eu estava pensando na palavra “companhia”. Acho essa palavra tão sonora, tão bonita… Me sugere algo bom. Está no grupo de palavras como “carinho”, “poema”, “lua”, “conforto”, “sonho”. Uma palavra tão fofa que parece travesseiro.

E não é só da palavra que eu gosto… Eu gosto mesmo é de companhia. Sempre gostei. Companhia pra brincar, pra passear, pra ir resolver alguma coisa difícil, pra conversar, pra descansar. Ironia da vida ( ou não ), sempre acabei tendo que me virar sozinha na maioria das minhas empreitadas, grandes e pequenas. Mas sempre gostei de companhia. Vejo muita gente que, como eu, gosta de ter gente por perto. Muita gente que não consegue sequer cruzar o portão de casa sozinha. E, no entanto, todos reclamam de solidão.

Claro, tem a dor de SER só. Essa dor é inerente a nós. Por mais que tenhamos alguém por perto, somos um, somos sós, e isso é uma realidade. Desamparante… Mas é. Porém, além disso, tenho ouvido muitos reclamarem da dor de ESTAR só. E essa fala, de certa forma, faz eco em mim também. O eco se faz onde tem um buraco… Onde tem um vazio.

Aí estava pensando – por que às vezes tenho sentido falta de uma companhia se tem tanta gente perto de mim? Amigos, família, amores. Sempre estive cercada de gente. Mas, às vezes, quando a luz apaga no quarto, e chega aquela hora de rever o dia e pensar na vida, eu tenho a impressão de ter estado só o dia todo. Só nos meus sonhos. Só nos meus sucessos. Só nos problemas. Só nos meus planos e sonhos.

Fui olhar no dicionário. Acompanhar – do latim “accompaniare” – conjunto de pessoas que comem o pão juntamente. E aí me caiu a ficha. Estar junto não é acompanhar. Não basta estar do lado. Dar a mão. Não basta ouvir. Não basta presentear. Não basta dar bom dia. Não basta telefonar. Não basta perguntar se está tudo bem. Quem acompanha, tem que dividir. Dividir o pão… Aquilo que sustenta, aquilo que se come. Aquilo que é fundamental. E dividir é isso aí – eu pego o que é meu e dou um pouco pra você. Fico com menos, mas a sensação de ver você alimentado me alimenta também. E assim, ambos ficamos satisfeitos. Em outro dia, é você quem me dá um pouco, e eu recebo, porque naquele dia, eu não tenho. E assim vamos ficando unidos… Acompanhados.

Dividir é uma coisa difícil em um mundo que prega o egoísmo, a auto-satisfação, a superficialidade… O medo da entrega. É difícil dividir porque temos sido cada vez mais ensinados a achar que, o que damos ao outro, vai nos faltar. Sem perceber, vamos nos isolando e deixando faltar o que nos é mais essencial – o pão da alma. Dividir decisões, planos, ideais, coisas, atenções, tempo, angústias… Tudo isso é difícil. E com o tempo, torna-se difícil receber isso dos outros também.

Aí comecei a me lembrar… Eu já tive grandes companheiros. Grandes mesmo. Tinha o meu avô querido, que dividia comigo filosofias de vida. Tive minhas colegas de escola, que davam um pedaço do chocolate delas pra mim na hora do lanche. Tive minhas primas, que dividiam as bonecas e as camas delas comigo. Tive namorados que dividiram comigo o colo, o abraço, a pele, as emoções, as decisões.

Aí comecei a me lembrar também que eu já fui craque em me doar. Houve um tempo em que dava todo meu pão aos outros, achando que isso era companheirismo… E ficava com fome. Mas houve um tempo também em que eu sabia dividir mais. Dividia o melhor de mim com os outros, e recebia o que eles me davam. E acho que nesse tempo eu era mais feliz.

O bom da gente saber que algo vai errado é que sabemos que sempre há a chance de consertar, melhorar. Sempre. E isso nem sempre é fácil… Mas é tão bom… Tão bom quanto ter companhia.

19 comentários sobre “COMPANHIA

  1. Amei a foto…
    E amei as palavras tb.
    Vc reparou bem – nem sempre quem está junto acompanha…
    Mas quem acompanha sempre está junto. Bem junto…
    Conserte-se, querida. Vc tem grande potencial para ser companheira… E pra ser acompanhada. :))))))))
    Bjo, bjo!

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  2. Nossa… O quanto nos faz falta uma companhia nesses dias “nublados” q vivemos…
    Muito nos machuca querer acompanhar alguém e sermos barrados por essa capa da superficialidade.
    Que conforto visitar seu blog e encontrá-la aqui, dividindo seu pão com a gente!
    Obrigada, de coração, pela companhia, Karina! =)

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  3. Ai, miga… Eu leio essas coisas e me sinto culpada, sabe… Vc sempre foi tão boa companheira e eu tenho sido negligente com vc, como amiga… Quero voltar a dividir mais!
    Te amo, viu? Se cuida e deixa os outros cuidarem de vc.
    Um beijo!

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  4. Lindo…

    Concordo com vc que nem sempre estar junto significa estar em companhia…
    ´
    E de certa maneira, sinto que mesmo quando ficamos ‘longe’ é possível ser companheira, porque dividimos, porque partilhamos…

    Obrigada por ser companhia na minha vida, amiga querida!

    Beijinhos!

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  5. Linda…

    Concordo com vc que nem sempre estar junto significa estar em companhia…
    ´
    E de certa maneira, sinto que mesmo quando ficamos ‘longe’ é possível ser companheira, porque dividimos, porque partilhamos…

    Obrigada por ser companhia na minha vida, amiga querida!

    Beijinhos!

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  6. Linda…

    Concordo com vc que nem sempre estar junto significa estar em companhia…
    ´
    E de certa maneira, sinto que mesmo quando ficamos ‘longe’ é possível ser companheira, porque dividimos, porque partilhamos…

    Obrigada por ser companhia na minha vida, amiga querida!

    Beijinhos!

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  7. Dividir é bom demais mesmo. Mas você tem mesmo certeza que era feliz quando dividia o melhor de você, e recebia o que lhe davam? Eu, quando tentei isso, só fui triste. Aliás, não era tristeza, era decepção. 😦

    Beijo. Saudade de vc.

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  8. Oi Ká…
    Vim aqui hj pq tô um trapo e precisava reler aquele texto dos desistentes. Aí me deparo com mais esse texto maravilhoso. Resultado: rosto molhado.
    Vc é o máximo. Sou sua fã. Obrigada por dividir com a gente suas inspirações… elas já me fizeram companhia inúmeras vezes.
    Beijo.
    Carla.

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  9. Oi!
    Que belo texto! eu estava c saudades deste blog. (internet agora é coisa rara p mim!)
    não sei se devia escrever isso aqui, mas não conheço outra forma de te mandar uma mensagem. Outro dia, não sei onde, voce estava pedindo dicas sobre o que escrever, agora eu tenho uma sugestão. Uma amiga minha, muito querida, está seriamente doente e tudo que eu queria era mandar-lhe um e-mail, um texto, que falasse de esperança e fé. Então, se por acaso isso te inspirar, se voce já tiver passado por algo semelhante e sabe do que estou falando ou se puder simplismente indicar textos, livros… eu agradeço, um abraço!

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  10. Ah … que texto belo ! Como seria magnífico se no mundo todos tivéssemos o dom de dividir … Neste mundo de hoje fico entristecido pelas perversidades das pessoas, da falta de companheirismo e amor ao próximo.

    Um grande abraço e parabéns pelo blog.

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  11. Karina querida
    Tanto tempo sem vir aqui e agora me pego emocionada com suas palavras. Deve ser porque tenho me sentido um pouco sozinha e aqui encontrei com quem dividir sentimento, emoção, companhia. Você está cada dia melhor, menininha. Acabei de indicar o seu blog pra minha sobrinha de 13 anos. Ela gosta de escrever e num concurso de redação em SJCampos ficou em 14º lugar entre 4 mil. A tia babona até chorou de emoção. Um dia ela ainda vai escrever tão bem quanto você.
    Beijos, minha linda.

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  12. Querida, que texto maravilhoso! Que delícia te ler novamente… Que delícia!
    E quero provar da tua companhia também, mocinha, e EM BREVE.
    (sim, isso é uma intimação. à propósito, o que vai fazer sábado? me liga? ó: 9439-3900)
    Beijo!
    (ah, sim, a Bêbada está voltando, aos poucos e com muito cheiro de mofo, mas…)
    🙂

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  13. TEU BLOGUE é tão fofo que parece travesseiro, tá?!
    Antes ser só e não estar só, ou então estar só mas não ser só, que ser e estar só… (Dá pra entender?)
    Você não gosta de estar só, e eu não gosto de ser só… Predominantemente…

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  14. Ai, Ká, cada vez que te leio, me vem à mente sua carinha com aquele baita sorrizão lindo e fico pensando cá com meus botões: “Como que uma menina, tão menina ainda, pode escrever tão bem?”. É pq vc é uma das pessoas mais sensíveis que conheço. E é exatamente por isso que conseguiu compreender tão bem o significado de companhia.
    Eita, que só posso repetir: QUANDO EU CRESCER QUERO ESCREVER QUE NEM OCÊ!
    Um beijo, Lindaura.

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