A TEMPESTADE


( MINISTÉRIO DO BOM SENSO ADVERTE – Este é literalmente um texto de auto-ajuda – estou tentando ajudar a mim mesma. Se servir pra mais alguém, ótimo. Mas não tenho a pretensão de ser dona da verdade de ninguém… Só da minha. E olhe lá. )

Problema é diferente de crise. O problema é um escorregão. A crise é um acidente grave de carro. O problema é perder 10 reais na rua. A crise é ter dívidas enormes com o banco e com o cartão de crédito. O problema é ter uma dor de cabeça. A crise é ter um tumor cerebral. O problema é discutir com o namorado por causa de um atraso. A crise é descobrir que não ama mais o marido. O problema é ficar de saco cheio do chefe de vez em quando. A crise é trabalhar sob constante estresse.

O problema é ter que passar o rodo no quintal depois da chuva. A crise é ver o barco enchendo de água durante a tempestade. Com o problema, você lida. Com a crise, você fica quase impotente. Quase.

Claro, tem gente que adora transformar problemas em crise. E gente também que enfrenta grandes crises tratando-as como pequenos problemas. Mas ninguém está livre nem de um, nem de outro. Uma hora, você vai topar com um dos dois, ou o que é pior – com os dois ao mesmo tempo.

Sobre os problemas, normalmente, não há com o que se preocupar. Eles vão passar, rápido. Para eles, vale aquelas máximas que as pessoas vivem dizendo. Por exemplo, que nenhum problema será relevante depois de um ano ( a maioria, nem depois de um mês ). E também que, se um problema tem solução, não é necessário se preocupar com ele, porque tem solução. E se não tem solução, idem.

Agora, a crise é diferente. Passar por ela é só para os fortes. Ela vai chegando de mansinho, tomando espaços vazios da sua vida, se instalando . Só que, de repente, vira um monstro terrível, pronto pra engolir você. Um nevoeiro que cega, não deixa você ver nenhum horizonte.

Os problemas nos desestabilizam, nos lembram que, como disse Victor Hugo, o riso constante é insano. Agora, as crises… Elas não. Elas vêm pra mudar a nossa vida. E mudam. Pra melhor ou pra pior.

E no meio da cegueira que a crise provoca, a gente precisa aprender a olhar.

Olhar para baixo, pois sempre haverá alguém que passa por uma crise pior do que a nossa… E nobreza mesmo é estender a mão para o outro quando queremos ser carregados no colo.

Olhar para cima, pois sempre há o apoio divino que pode resolver aquilo que ninguém mais pode.

Olhar para o lado, pois as pessoas sempre têm coisas importantes para nos ensinar e podem mostrar o que não conseguimos ver, seja por suas palavras, seja por seus exemplos.

Olhar para dentro, pois lá está a razão e a solução de tudo.

Olhar para fora, pois mesmo em crise, precisamos salvar o tempo do descanso, do sorriso e da beleza que está no mundo.

Olhar para trás, pois o nosso passado pode nos lembrar quem somos e qual é a nossa trajetória de crescimento.

Olhar para frente, pois como os problemas, um dia as crises passarão – mesmo que demore um pouco mais.

Acredito piamente que as crises sempre têm algo a ensinar, algo que só aprenderíamos passando por elas, e embora algumas sejam imprevisíveis… Nossa escolha conta muito. Um crise financeira pode nos ensinar a lidar de maneira mais consciente e generosa com o dinheiro, ou pode nos empobrecer e levar tudo que construímos. Uma crise de saúde pode nos ajudar a valorizar mais a vida, ou pode nos deprimir até beijarmos a morte. Uma crise na família pode nos lembrar da importância de ter alguém por perto, ou pode nos afastar das pessoas. Uma crise no amor pode nos fazer mais maduros, ou pode nos devolver à solidão. Uma crise no trabalho pode nos apontar novos caminhos de realização pessoal e profissional, ou pode nos deixar frustrados e infelizes. Uma crise existencial pode nos responder perguntas que sequer faríamos antes, ou pode nos calar. Não é fácil passar por uma crise. Mas pode ser bom. O sofrimento será proporcional a dureza da nossa cabeça – quanto mais flexíveis e abertos formos, mais rápido ela passa, e menos dor causa.

Meu avô dizia, quando eu não queria fazer lição de casa – “se tem que ser feito, faça logo; o tempo de brincar e ser feliz é muito mais precioso, e não pode ser perdido.”. No fim, a crise é mesmo uma questão de atitude. Com ela, aprendemos a olhar para muitos lados… Contanto que não fiquemos com os olhos presos nela.

“Mas, tão certo quanto o erro de ser barco a motor
E insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque
Não vemos...”

21 comentários sobre “A TEMPESTADE

  1. Você vai me odiar por isso, mas eu gosto demais dos seus textos de auto-ajuda… *rs Eles me ajudam bastante.
    As crises são muitas, mas sou testemunha que elas passam logo se, ao invés de ficarmos negando, ou fugindo, encaramos logo e resolvemos os pequenos problemas que a compõem.
    Eu aprendi, a duras penas, que é importante contar com pessoas amigas e queridas nessas horas, como você colocou aí.
    Beijo, minha psicóloga predileta. :o)

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  2. É engraçado, fiz um post há uns dias renegando qualquer intenção de fazer textos de auto-ajuda. Às vezes acho que a grande diferença entre esses textos e os que a gente faz é que nós (boas meninas 🙂 não temos nenhum interesse em lucrar com eles. Porque você, assim como eu, estamos só pensando alto pra pensar melhor, não é? Beijo pra você.

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  3. Muito bom!!!

    Mas como é difícil!!! É preciso repetir isso a si mesma quase todo dia… Pra não dizer toda hora…

    Amiga linda, vc tem que publicar… Se preferir, não os que vc considerar ‘auto-ajuda’… Mas… Não prive o mundo de ter seus textos impressos e reunidos em um (depois dois, três) volume (s)!!!!
    Beijossss

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  4. Eu AMO essa sua capacidade de sintetizar e dizer suas verdades!
    Não sou mto bom com crises, vc sabe. Sou desesperado e ansioso. Mas aprendi com o tempo que depois delas sempre tem algo bom. E que, como vc me disse tantas vezes, a vida tem um movimento – e quem fica parado, inflexível, é atropelado por ela.
    Bjo, minha flor. Seja qual for a sua crise, vc vai tirar de letra… COmo sempre. :)))))))

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  5. Linda, eu sou uma pessoa de fé. Tremenda e quase inabalável fé. Me acostumei a acreditar, nos últimos anos, que sofrimento não é punição, porque Ele nos ama, mas oportunidade para crescer. Acredito piamente que, uma vez que aprendemos o que tínhamos para aprender com alguma situação de crise, ela vai embora, porque sua função foi cumprida. Por outras palavras, tô contigo e não abro. Beijocas.

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  6. É a primeira vez que venho aqui te ler. Me encantei! Não só pelo fato de vc ser “mafaldiana” como eu, mas também por esse texto no estilo auto-ajuda, que me fez sorver cada linha, cada palavra, com a sede de quem está em um deserto, sem uma gota de água.
    Me caiu como uma luva.
    Parabéns, moça.. Sucesso sempre!

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  7. Querida Mafalda,

    Me chamo Lula, moro na capital do Brasil. Neste momento estou emocionado – duas ou quatro lágrimas correram do meu olho esquerdo e direito. Os peixes no Tietê, o mistério da morte de um ser querido. A lembrança dos responsáveis pela minha formação que eu não sei onde estão… Seu texto sensível e emocionado me tocou. Nas crises ou problemas estarei por aqui. Obrigado!

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  8. Real(mente) adorei seu texto. Não sei como vim paar aqui mas aqui parei e…”meus favoritos”. Mas acho tudo muito difícil. Não encontro espereança nem vontades.. mas você escrevo lindamente e adorei o que vi. De certa forma um alívio. Se você pode eu também posso. Quem venham crise e problema. Comecei meu blog agora e sinto que vou adorar tudo isso. Pode enfim ser uma fresta.

    “Viver é a arte de passar pelas frestas” (Ana Rego Monteiro)

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