Adolescente belíssima e suave, assim é Srta. Esperança. Fala baixo e docemente, tem sorriso discreto, quase imperceptível. Sua pele extremamente branca, quase transparente, seus olhos de verde puro e seus gestos delicados escondem uma personalidade convicta, idealista e decidida, mas que prefere antes a constância e o silêncio aos grandes escândalos inflamados.
Vive doentinha, a pobre Srta. Esperança. De saúde frágil, não pode achar um vento mais forte, um vírus desconhecido, um pedaço de bolo com glacê levemente azedo e pronto, lá está ela, acamada, intoxicada, constipada, gripada, deprimida, pneumônica, à beira da morte. Nunca sofreu de mal crônico, mas sim de crises agudas de dor e sofrimento. Quando doente, não gosta de ser tratada por médico algum; cura-se sozinha. E quando, no leito, todos pensam que ela não resistirá… Levanta-se ágil e continua seu caminho.
Ao contrário de tantas outras moças exuberantes, Srta. Esperança não chama atenção ao entrar em um lugar. Não usa tons fortes, nem maquiagem, nem decote. Não tenta seduzir e não tem novidades para contar a ninguém. Caminha devagar e sorrateira pelos cantos, não chamando quase nenhuma atenção para si. Mas é verdade que Srta. Esperança nunca falta a um compromisso – comparece sempre que é chamada a todos os bailes, nascimentos, batizados, aniversários, casamentos, formaturas, cerimônias e velórios para os quais é chamada. Presença certa e flutuante. Nem sempre é a primeira a chegar, mas sempre é a última a sair.
Srta. Esperança vive sozinha, mas tem um irmão mais velho bastante sombrio, o Sr. Medo. Ele é traiçoeiro, atormentado, emotivo, e em seus olhos negros, sempre traz uma ameaça para a pobre moça, atacando-a sem piedade. Embora seja muito mais forte, ele se cansa muito rápido. Srta. Esperança não odeia o irmão, e frequentemente o convida para longas conversas, observando-o com compaixão e paciência, contendo-o com amor. E assim ela consegue calá-lo em seus surtos mais complicados.
As pessoas, embora fiquem encantadas com Srta. Esperança, frequentemente se irritam com seu jeito fugidio quando lhe pedem um conselho, ou quando algo dá errado. Não entendem que seu respirar já é um presente, e sempre querem mais. Ferozes e pouco sábias, as pessoas expulsam, afastam e ofendem Srta. Esperança. Os de coração corrompido se incomodam com sua existência, e não raro tentam atentar contra sua vida. Querem asfixiá-la, entorpecê-la, ludibriá-la, tramam contra ela. Mandam executores profissionais, torturadores, homicidas; tentam as guerras mais declaradas às lutas mais ocultas, dos truques mais sutis aos atentados mais bombásticos. Mas Srta. Esperança é esperta e rápida, escapa e vive. Pode ser fraquinha, mas é guerreira. E, no fim, com ela ninguém pode.
Srta. Esperança nunca namorou. Seu ar angelical, sua beleza exótica e sua doçura acabam ganhando, sem que ela queira, o coração de jovens como ela. Impetuosos e insistentes, eles tentam ganhá-la para si. Mas ela nem nota, e quando nota, não quer. Apenas um, um único, balança seu coração. E é por ele que ela suspira todos os dias.
Sr. Tempo, idoso, experiente e tranquilo, de fato é muito charmoso, forte e protetor. Ele percebe os olhares apaixonados de Srta. Esperança quando passa, aqueles olhos verdes profundos suplicando um olhar correspondido. Mas sabe que tamanha paixão, embora o envaideça, jamais poderia concretizar-se, pois perderiam-se um no outro facilmente. Por isso, Sr. Tempo mantém Srta. Esperança assim, afastada; sabe que ela está presa a ele, mas ainda sozinha e concentrada.
Quando Srta. Esperança senta-se à beira do lago, solitária, chorosa, pensativa, e ameaça perder o fio de realidade, tão absorta em si mesma, querendo mergulhar e se perder para sempre na imensidão azul… É o Sr. Tempo quem vem sentar-se ao lado dela, e espera, simplesmente espera, até que ela fale. E ela fala… Sobre seu cansaço, sua revolta, seus temores, suas doenças, seus males. Depois que Srta. Esperança desabafa no colo do Sr. Tempo, ele a beija ternamente. E ela renasce ali mesmo, pronta para ir em frente.
Srta. Esperança, tão jovem, tão bela, tão atacada, tão suave… É frágil, sim. Mas não morre.
( Este texto é da Valéria, que precisa de longas conversas com Srta. Esperança agora… Força, amiga. 🙂 )