OS PREFERIDOS DAS CRIANÇAS

No último dia das crianças, recebi telefonemas e e-mails de várias pessoas me pedindo dicas de presentes para crianças queridas – filhos, sobrinhos e outros miúdos. Baseada na minha larga experiência em contato com eles – seja como tia e madrinha, professora, psicóloga ou como pessoa – sem piscar, respondo: dos 2 dias aos 15 anos, o melhor presente para se dar a uma criança é um livro.

Vivemos em um país onde a cultura letrada é valorizada, mas distante da maioria das pessoas. Poucos conseguem gostar de ler, e se gostam, recorrem a literatura fácil e de baixa qualidade. Reservar um tempo para entrar em contato com um livro e todo o universo que ele carrega – a emoção, o conhecimento, o prazer, a utilidade – ainda é tarefa difícil para muitos de nós. E, no caso das crianças, costumamos apresentar a elas livros simplificados, de texto pobre e ilustrações horrorosas. Para os maiorzinhos, livros chatos e sempre aliados a algum tipo de cobrança. O que é uma pena… Afastamos as crianças do contato prazeroso e necessário com o livro.

Meu romance com a Literatura Infantil é antigo. Lia muito quando criança. Gosto dos livros feitos para os pequenos – são mais sinceros e diretos. Além disso, tenho constante contato com esse material por força do ofício. Leio todos os dias para meus alunos de 3 anos, por pelo menos 30 minutos – momento esperado e cobrado por eles. Temos na classe uma biblioteca circulante com mais de 600 títulos, que é, sem dúvida alguma, um dos lugares da sala mais queridos pelas crianças ( uma sala que tem brinquedos de todos os tipos, materiais de arte, computador e muitas outras coisas atrativas para elas ). Na biblioteca, temos títulos de vários gêneros de leitura – de enciclopédias a gibis, de contos de fada a curiosidades, histórias de muitas culturas, tamanhos, tipos e graus de dificuldade. E depois de muitos anos investindo nisso, posso dizer que crianças gostam de livros com o coração inteiro se forem estimuladas e apresentadas a bons materiais; e se enxergarem na relação de leitura um laço afetivo. Ler para seus filhos, alunos, netos e conhecidos é avançar um pouco mais na construção da ponte entre adultos e crianças que, embora lidem com a vida a partir de universos muito diferentes, se amam e se respeitam.

Este post vem na intenção de compartilhar a quem se interesse pelo assunto indicações de livros que as crianças mais gostam ( servem para os pequenos e também para os maiorzinhos ). São livros que elas amam e pedem para que eu leia mil e uma vezes por semana. Garanto a qualidade de todos – tanto no texto como na ilustração. Fiz uma lista com 70 títulos, separados por gênero. Aqui constam os primeiros 10, de um gênero ideal para crianças de 0 a 5 anos.

Contos de Acumulação e Repetição

São histórias divertidas para as crianças. Geralmente há uma frase ou situação na história que se repete pelo livro todo – simplesmente se retomando ou se acumulando – e por isso elas conseguem acompanhar com mais facilidade. É um dos tipos de leituras que mais gostam, e também é gostoso de ler para elas.


1) “A Casa Sonolenta“, de Audrey Wood . Ilustrações de Don Wood. Editora Ática
Em uma casa especial, num dia chuvoso, todos parecem gostar de dormir demais. Até que uma pulguinha resistente causa uma reviravolta na situação e traz um colorido diferente a essa história que costuma deixar as crianças de olhos vidrados. A dupla Don Wood e Audrey Wood é especialista em casar textos simples e ricos com ilustrações que enchem os olhos, cheias de detalhes e beleza. É deles também “O Rei Bigodeira e sua Banheira” ( Editora Ática ), e “Rápido como um Gafanhoto” ( Brinquebook ), ambos queridíssimos pelas crianças.


2) “Tanto, Tanto…“, de Trish Cooke. Ilustrações de Helen Oxenburry. Editora Ática
Para um bebê muito querido pela família, um dia especial, quando todos estão reunidos, é uma festa intensa e alegre. Todos querem apertar, beijar, mimar o bebê, que, sendo o centro das atenções, se percebe como pessoa importante e amada. Um livro com texto delicioso, protagonistas negros ( raridade… ) e um encadeamento de fatos que toca o coração das crianças. Os bebês costumam adorar ouvir a leitura dessa história, e pedem para repeti-la inúmeras vezes.


3) “O Grúfalo“, de Julia Donaldson e Axel Scheffer. Brinquebook
Um ratinho esperto propaga a existência de um animal estranho, perigoso e nunca antes visto, e com isso consegue se livrar de muitos perigos. Até que… O Grúfalo aparece! Para as crianças maiores, vale pelo humor fino das entrelinhas. E os menores gostam muito da figura diferente e divertida do Grúfalo. A história continua em “O Filho do Grúfalo” ( Brinquebook ).


4) “Maria-Vai-com-as-Outras“, de Sylvia Orthof.
Um clássico da Literatura Infantil, é um livro simples e gostoso de ler. Maria é uma ovelhinha sem cara própria que, por sempre seguir as ações do rebanho, acaba nunca fazendo sua vontade. É uma delícia acompanhar suas reflexões e seu processo de mudança, quando descobre que pode ser ela mesma, além do grupo. A história é muito sonora, e as crianças mais sensíveis conseguem compreender a problemática de Maria já na primeira leitura. É um dos meus preferidos.


5) “Da Pequena Toupeira que Queria Saber quem Tinha feito Cocô na Cabeça Dela“, de Werner Holzwarth. Companhia das Letrinhas.
A Pequena Toupeira se revolta quando acorda com um cocô sobre sua cabeça. Parte, bravíssima, para procurar o autor da façanha, e nesse caminho, descobre como é o cocô de vários animais amigos. O final é surpreendente para as crianças, que se divertem muitíssimo. Trata de um tema evitado de forma leve, com muita delicadeza e diversão.


6) “Menina Bonita do Laço de Fita“, de Ana Maria Machado. Ilustrações de Claudius. Editora Ática.
Outro clássico. Um coelho bem branquinho conhece uma menina negra e linda. E quer saber como faz para ficar preto como ela. Aos poucos, descobre que o caminho para ter uma filha pretinha como a menina é mais delicioso do que ele podia imaginar. Outra história com protagonistas negros, muito bem desenhada, e com o texto sempre primoroso e desafiador de Ana Maria Machado. Sucesso garantido.


7) “Macaco Danado“, de Julia Donaldson e Axel Scheffer. Editora Ática
Mais um livro da mesma dupla de autores de “O Grúfalo”. Nesta história, de ilustrações belas e divertidas, o macaquinho perdido procura sua mãe contando com a ajuda de uma borboleta atrapalhada e bem intencionada. No caminho, ambos descobrem que cada animal é de um jeito, e que cada filhote, embora adore descobrir o mundo, se sente feliz de verdade mesmo quando encontra os braços de sua mamãe. Sensacional e favoritado pelos pequenos todos os dias.

8 ) “Porcolino e Mamãe“, de Margaret Wild. Ilustrações de Stephen Michael King. Brinquebook.
Porcolino é um porco bebê que se perdeu de sua mãe. E procura desesperadamente pelo carinho que lhe falta em vários animais, sem sucesso. Até que percebe que o amor de verdade só está ao lado da mamãe tão querida. História doce, ilustrações suaves e uma deliciosa continuação em “Porcolino e Papai”. Ideal para os bem pequenos.


9) “Bruxa, Bruxa, Venha a MInha Festa“, de Arden Druce. Ilustrações de Pat Ludlow. Brinquebook
Esse livro é realmente sucesso garantido entre os pequenos. Imagens perfeitas, cheias de detalhes, apóiam um verdadeiro conto de repetição, que as crianças rapidamente decoram e amam repetir. Uma festa vai acontecer, uma bruxa é convidada… Mas como condição para aparecer, pede para convidar o gato, que por sua vez exige a presença do espantalho… Até que o final surpreendente remete novamente ao começo da história, que precisa ser repetida, dada o amor das crianças por esse livro.


10) “Mamãe, você me ama?“, de Barbara Josse. Ilustrações de Barbara Lavalee. Brinquebook.
De uma delicadeza incrível e emocionante, esse livro mostra a pergunta de uma menininha inuit a sua mãe; para saber se é amada, ela vai propondo várias situações – até se convencer que o amor de sua mãe é infinito. Livro de ilustrações muito bem feitas, e que esclarece um pouco sobre a cultura dos esquimós.

O dia em que resolver colocar aqui uma página profissional, coloco o resto das dicas. Ou não. Hehe. Quem tiver mais dicas pode postar nos comentários. 🙂

14 comentários sobre “OS PREFERIDOS DAS CRIANÇAS

  1. Isso acontece porque as pessoas sabem que, de criança, você entende…
    Minha sobrinha adorou o presente, de fato, se encantou com o livro mais do que qualquer brinquedo que ganhou. Tenho certeza que muita gente vai adorar a utilidade destas dicas.
    E eu adorei falar com você. Quero mais. Pode?
    Obrigado…
    Beijo bem grande.

    Curtir

  2. amo ler e sei que esse hábito maravilhoso vem da infância! foram gibis da mônica devorados, maria vai com as outras (que lembrança!) lido e relido, a borboleta bela e a rosa amarela, lágrimas a rodo com o meu pé de laranja lima, além do jogo do contente da Pollyanna!
    ai, que delícia!!!

    Curtir

  3. verdade, como sempre aliás…
    Minha história com livros tem muito disso. Qdo criança tinha inveja das minhas amigas não de suas bonecas da moda ou brinquedos de última geração, mas dos livros infantis que elas tinham em suas estantes.
    Com o passar dos tempos fui adquirindo os meus prórpios livros e hoje tenho uma boa coleção. Minha filha também foi agraciada desde pequena com ótimos livros infantis e hoje delicia-se com os infanto-juvenis…
    Bela essa ideia!

    Bjos

    Patrícia Lerbarch

    Curtir

  4. Rsrsrs

    Me lembrei, ao ler seu texto, que quando pequena morávamos (e ainda moramos) na “roça”, e a encomenda que fazia à minha mãe quando ia na cidade, era de uma revista em quadrinhos, da Turma da Mônica, de preferência.Não queria doce, nem bala, nem bonecas, mas se ela esquecesse da minha revistinha… hum…

    Desde bem pequena fui incentivada e tive acesso a todo tipo de literatura, e isso tem sido muito importante na constituição da pessoa que eu sou. E para mim, livro é o presente perfeito, portanto assino embaixo: vamos dar livros para as crianças!!! Quem sabe assim, não teremos adultos mais sensíveis, interessantes e menos influenciáveis…

    Abraço apertado

    Curtir

  5. Seleções interessantes, mas imagino que os meus filhos vão querer primeiros Gibis (da Turma da Mônica e “derivados”)…

    Depois eu tenho inicia-los na arte de ler livros, como pequeno principe.

    Fique com Deus, menina Karina.
    Um abraço.

    Curtir

  6. Sim, “A casa sonolenta” foi um dos preferidos de meus filhos. E é lindo plasticamente!

    Havia um livro que foi uma terapia para minha filha: “O Homem que amava caixas” de Stephen Michael King. Tem um texto absolutamente emocionante e narra o amor silencioso de um pai e seu filho. Claro que minha filha identificou-se fortemente com o texto, pois sempre soube que sua mãe não lha dava muita bola, enquanto que eu amava e apoiava do meu modo indireto, tanto que hoje mora comigo.

    Mas, não obstante a identificação, é livro de texto e imagens belíssimas e toda a minha preferência vai para ele.

    Excelente post!

    Curtir

  7. Amo ler! E esse gosto e habito muito teve a ver com as historias que o meu pai costuma me contar toda a noite e com os livros ditos ‘paradidaticos’ que passavam pra gente ler no colegio. Apesar de serem chamdos de ‘livros para crianças’, sao entre eles que estao alguns dos melhores titulos que ja li. Historias de uma leveza e ao mesmo tempo de uma profundidade incrivel! Qualquer dia paro pra te fazer um lista e mandar as minhas indicações 😉

    Curtir

  8. Ah… nao resisti a comentar de novo depois de ler o comentario do Daniel Savio. O Pequeno Principe é um livro mais que significativo pra mim. Mas, ao contrario do que muitos dizem, nao acho que ele é um livro para crianças. Tenho uma edição ja um tanto antiga dele, que tem um valor sentimental muito grande pra mim [foi presente de meu pai para minha mãe, na epoca de namoro deles]. Gosto das orelhas do livro onde diz:

    “Sem dúvida as crianças o acolherão de braços abertos, porque elas são capazes de compreender tudo, mesmo os livros para gente grande. Pois temos certeza de que se trata de um livro – e urgentissimo! para adultos. O Pequeno Principe é uma fábula. Ou, se preferirmos, uma parábola. Não é um livro para crianças, porque traz justamente a mensagem da infância, a mensagem da criança. Essa criança que irromperá de repente no deserto do teu coração, a milhas e milhas de qualquer região habitada, – e na qual reconhecerás (ó prodígio!) os teus olhos, o teu riso, a tua alma de há vinte ou trinta anos. […] Esse livro é também um teste. É o verdadeiro desenho número 1. Se não quiseres compreender, se nao te interessares pelo seu drama, aqui fica a sentença do Príncipe – “Tu não és um homem de verdade. Tu não passas de um cogumelo!” “

    Curtir

  9. Gostei muito de seus livros, mais gostaria de lhe pedir algumas ideias para uma adolescentes, pois mim filha tem 12 anos, poderia me sugerir algo. muito obrigado pela dica, espero que continue sempre com essa dedicação para com as crianças em suas leituras. Parabens.

    Curtir

Deixe um comentário