VERDADES

Quando estudava Psicologia, levei um grande susto quando me disseram que a Verdade é algo relativo. A professora, calmamente e com um sorriso compreensivo no rosto, ao conduzir um estudo de caso, ouviu um de meus colegas dizer que a paciente havia mentido ao distorcer informações reais e óbvias. E ela disse, isso não nos interessa. A verdade dela é o que ela nos diz… E é com essa verdade que temos que trabalhar.

Do alto dos meus 18, 19 anos, eu achava que a verdade era uma só. Conforme fui conhecendo as pessoas, percebi que cada um tem a sua verdade, mesmo quando ela não condiz com os fatos empíricos e objetivos da realidade. Meu time preferido é o melhor de verdade, minha religião é o caminho da verdade, minhas opiniões são as verdadeiras, o jeito que eu vejo as coisas é o jeito certo de ver. A verdade, nesse sentido, tem muito mais a ver com o que se acredita do que com o que se vê – está muito mais próxima da fé do que dos fatos científicos.

Pensando sobre a verdade, passei também a pensar sobre a mentira. Tem, sim, quem minta descarada e deslavadamente, esperando, com isso, safar-se de uma situação difícil, ou manipular as pessoas, ou conseguir algo que não teria se dissesse o que realmente pensa e o que realmente vê. E para essas pessoas, a mentira se torna um vício pernicioso e incontrolável, simplesmente porque é o caminho mais curto, o mais fácil.

Mas, nem todo mundo que mente, mente intencionalmente. Para alguns, a realidade é tão pobre e tão medíocre que precisa ser enfeitada, acrescentada de detalhes que a deixam mais bonita. Para outros, a realidade é tão difícil que precisa ser reinventada, fantasiada, sublimada em devaneios mais alegres e amenos. Para alguns, ainda, a realidade é tão dura de aceitar que precisa ser negada, esquecida, superada… Coberta por uma realidade alternativa, que seja mais suportável. E outros são tão covardes que simplesmente fecham os olhos para o que acontece, preferindo ficar na escuridão. Todos eles, de alguma forma, mentem sobre o que realmente percebem. Mais do que mentir para outros, mentem para si mesmos. E essa é a mentira mais triste que existe… E a mais difícil de ser desconstruída. Mas talvez não devam ser chamadas de mentira… E sim de “verdade pessoal”, como minha professora ensinou. É reconhecendo – não ignorando nem atacando – essas mentiras verdadeiras, ou verdades mentirosas, que conseguimos penetrar no universo pessoal de alguém.

Sim, muitas vezes a realidade pode ser facilmente ignorada e substituída por verdades pessoais.

Mas há algumas verdades que não podem ser negadas. São verdades que estapeiam nossa cara, que ficam lá, pulando na nossa frente, mostrando-se, exibindo-se, verdades que não sossegam enquanto não se fazem ser conhecidas. Verdades que se relacionam à justiça, à decência, ao cuidado com o outro, à ética, à coragem, ao amor, à virtude. Essas verdades assombram, dão medo e nos fazem sentir tristes, muitas vezes, porque nos colocam diante da nossa limitação humana… Nos colocam no nosso devido lugar. Verdades que não podem ser negadas são aquelas que nos perseguem, que fazem barulho na porta, que nos incomodam, como coceiras que não podem ser ignoradas, como um espirro que não pode ser barrado. Verdades que nos deixam em total estado de desconforto, e muitas vezes, em choque. Verdades que nos quebram inteiros e nos colocam em pedaços.

Mas aí que está o maior milagre de tudo isso. Assim que são finalmente vistas e encaradas, essas verdades, que não são nem um pouco relativas, mostram-se maravilhosas e fiéis amigas. São capazes de nos recompor, de nos fazer melhores, de nos dar a paz da consciência tranquila, de nos abrir caminho para um novo e espetacular horizonte. Verdades que precisam ser vistas, ao serem vistas e reconhecidas, nos enchem de dor… Mas também de esperança.

E foi o próprio Jesus Cristo quem explicou, uma vez, o porquê:

“…E conhecereis a verdade… E a verdade vos libertará.”

( João 8:32 )

11 comentários sobre “VERDADES

  1. Karina, que texto mais sublime… Tão cheio de emoção, uma emoção que não soube definir bem, mas tão forte que senti daqui. Não sei o que o motivou, mas ficou um texto filosófico, poético e prático, como muitos outros que você escreve aqui.

    Minha vó nos ensinava: a mentira é dos fracos, os fortes preferem a verdade. Mário Quintana ensinou: a mentira é bonita. Eu aprendi com a vida: é melhor sofrer com a verdade do que viver feliz na mentira.

    Cristo tinha sim, razão. A verdade liberta, e traz vida. Enxergue as suas, e você será feliz, minha querida.

    Um beijo…

    ( PS:. Fiquei tão feliz com a resposta do email que mandei que mal consigo me aquietar pra dormir… :-)))))))))) Não vou decepcionar, você vai ver. Adoro você! )

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  2. Bela morena, adoro você assim, tão apaixonada pelas causas que defende. Pessoa incrível é você!

    Penso a verdade como um diamante. Em sua essência, pura, cristalina, dura, mas de cada lado que olharmos, nos mostrará o mundo de uma forma. Os mais virtuosos escolhem o lado correto. E os outros, procuram distorcer conforme suas conveniências…

    A frase de Cristo, sempre bem vinda, bate o martelo. A verdade liberta! E isso é um presente de Deus.

    Estamos com saudades, que tal marcarmos um passeio daqueles pra conversarmos mais? Eu, você e eles. rs

    Beijo, amo tua veia poética que te dá esse brilho todo!

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  3. Olá querida!
    Conheci seu “espaço” por acaso ontem, e desde então não me canso de “ler-te”. Lindos, seus textos, sua sensibidade, suas palavras. Parabéns! Estarei sempre por aki, viu?

    Carinho,
    Isabele.

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  4. Ei… Karina!

    Ando filosofando (literalmente) nos últimos dias, e seu texto veio ao encontro de minhas reflexões: ‘o que é a verdade?’

    O mesmo Jesus que disse “…E conhecereis a verdade… E a verdade vos libertará.” ( João 8:32 ), na sexta-feira da paixão disse: “Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da VERDADE. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”. (João 18, 37)

    Escutá-lo é também dar testumunho da verdade que Ele mostrou: ser humilde, misericordioso, paciente, bondoso, praticar o bem sem olhar a quem, ser justo, fiel, compassivo…

    Como a humanidade está longe dessa verdade!

    Bjus e obrigada por acrescentar às minhas reflexões as suas…

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  5. Karina!!!

    Tenho passado sempre por aqui, e nem sempre comentado, porque muitas vezes me fogem as palavras, e fico a devanear sobre o que li…

    Parabéns pelo texto, maravilhoso, como sempre…

    Ando num processo de enxergar de pertinho as minhas verdades… E isso liberta mesmo… Principalmente quando a verdade é algo que te envergonha, que te remete a arrependimentos, ainda assim aceitá-la é uma libertação…

    Estou esperando a publicação de um livro, heim??? Um não, muitos e muitos!!
    Ainda me quer como RP? rsrsrs
    Bjs, muitas saudades, amiga…

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  6. Postagem pesada, mas engraçado que para passar uma verdade única basta algo estar fora do contexto de realidade, mas será o que é mais importante é a verdade individual, ou a coletiva…

    Por exemplo, mesmo não querendo, somos o povo de jeitinho, mas ai acabamos incorporando que é aceitavel que um politico roube (lembra no lema do Maluf, “rouba, mas faz?”), sendo que a verdade individual é que verdade que um politico deve roubar, mas a coletiva, o é…

    Hua, kkk, ha, ha, maior melda isto…

    Mas como foi a tua pascoa com as crianças, foi tudo bem contigo?

    Fique com Deus, menina Karina.
    Um abraço.

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