Ano Novo, Vida Nova?

Há dias está na minha Dashboard o post que tem como título esse antigo modo de falar: “ano novo, vida nova”. As letras se derramam e se apagam na tela sem que eu me convença que tenho algo importante a dizer. O título persiste. Mas faltava algo para que eu escrevesse sobre essa passagem de 2010 para 2011.

A um dia do término do ano, acordei cedo, muito cedo. Acordei devido a dores nos ombros, nos braços, e a cabeça, que ultimamente sempre dói – efeito do excesso de esforço e do estresse de 2010, ainda me castigando em seus últimos suspiros. Justamente quando posso relaxar um pouco é que sinto o tamanho da pancada. Ainda bem que não doeu tudo de uma vez. Eu não teria aguentado. Melhor a dor que vai indo embora aos poucos, ainda que ela dure mais.

Pensei que não tenho mesmo nada a dizer. Ano ruim. Ano péssimo. Um ano atrás eu estava aqui, pedindo boas surpresas. E o que tive foram muitos desafios pra enfrentar e muitos drops amargos pra chupar aos poucos. Claro, bons momentos sempre existem. Conheci boas pessoas, tive boas conversas, fiz coisas boas, gente querida apareceu e nasceu, dei risada com gosto, experimentei, beijei, aprendi, amei, escolhi, vi, vivi. Mas, na inevitável balança mental onde coloquei o peso dos últimos trezentos e poucos dias, não vi equilíbrio. Ano ruim. Ano péssimo. O ano em que cansei de viver. Mesmo tão nova de idade, senti meu coração idoso, desgastado, falhando, esclerosado. O ano em que eu disse “não quero mais”. O ano em que ouvia a voz do meu pai, já apagada da minha memória, voltando só pra me dizer, agressiva – “não tem querer”. Mas eu continuei querendo. Querendo sumir, e mudar de vida. Deixar pra trás tudo e ter uma chance pra começar tudo de novo.

Pensando nisso tudo, desci as escadas e notei que tinha algo no meu quintal ao abrir a janela. Um pacote. Um jornal embrulhado, provavelmente deixado por engano. Deixei de assinar os jornais “oficiais” depois do último processo eleitoral. Já chega as besteiras que não posso evitar de ouvir e ler. Mas já que estava lá, não custava olhar. Abri, era a Folha de São Paulo. Logo no meio, as costas do caderno Ilustrada e lá… O artigo do Contardo Calligaris, com o mesmo título do meu post – “Ano Novo, Vida Nova“. Ansiosa, devorei cada palavra. Na segunda leitura, saboreei.

Delicado e consciente, como sempre, ele responde a uma leitora que quer entender as pessoas que simplesmente somem do mapa e da vida dos outros quando cansam da vida que têm. Um belo artigo sobre amor, coragem, covardia e sobre o desejo. Segundo ele, as pessoas que cansam da vida e largam tudo para mudar radicalmente, sem ter sequer paciência para se despedir das coisas e pessoas, frequentemente não vão muito longe de onde estavam. Constróem novamente vidas semelhantes a que tinham antes – trabalho, lugares, hábitos  e relações parecidas. E isso mostra que, na verdade, não adianta fugir de uma vida que parece autoritariamente sufocante, se somos escravos das dores, imposições e exigências que o nosso próprio desejo nos coloca; e pior ainda quando o desejo dos outros, próximos que amamos, vira o nosso próprio desejo por obrigação. Ele termina com o seu “(…) voto para o Ano Novo: que nos preocupemos menos em mudar nossas vidas e encontremos jeitos de conseguir desejar o que já desejamos sem transformar nosso desejo em obrigação.“.

Terminei a leitura pasmada com a “coincidência” dos títulos, dos pensamentos e do jornal deixado no meu quintal, mas principalmente terminei tocada pelas palavras do Contardo. Entendi o que faltava no título do meu post para que ele acontecesse. A interrogação. Será que para ter um ano novo, realmente preciso de uma vida nova?

Pensei nas coisas que gosto da minha vida. São tantas… Tem muita gente chata, mas tem tanta gente que amo e não queria que fosse embora nunca. Tem muita angústia de indefinição sentimental, mas tem muita história pra contar sobre a delícia das tentativas de gostar dos moços, eles, sempre tão misteriosos, malvados e instigantes. Tem muito amigo que sumiu, mas tantos outros que não desistiram de mim. Tem muito problema no trabalho, mas tanta coisa boa realizada e curtida ao máximo. Tem muito problema financeiro, mas muita coisa adquirida. Tem muito cansaço e problemas de saúde, mas ainda estou de pé. Tem muito aborrecimento e inconformidade com o mundo, mas tanta ideia nova surgindo, tanta gente fazendo coisa boa. Tem uma família cansativa e viciada em seus próprios jeitos de ser e viver, mas tem mudança estapeando todos nós e nos ensinando o que falta aprender. Tem tanta coisa que me deixa de saco cheio. Mas tem tanta coisa eu faço como quero, e ainda bem que não sou como tantos outros que não se permitem errar nem escolher nada. Tem muita coisa que tive que enterrar dentro de mim. Mas algumas sementes estão insistindo para serem cuidadas. E de repente me dei conta que não preciso sumir, nem mudar de vida, pra ter um ano novo. Só preciso ter um pouco de paciência com a vida e comigo mesma. E um pouco de ânimo para fazer o que tem que ser feito – rever os meus desejos de sempre. E o que eu sempre desejei é tão simples. Eu quero felicidade em tabletes pequenos e diários, e sabedoria pra deixar os problemas passarem por mim sem me agarrar a eles. Não sei onde foi que me perdi disso. Acho que foi desejando uma vida fácil e nova que nunca virá. E desse desejo virei uma escrava insatisfeita e triste.

Que 2011 seja um ano de liberdade. Liberdade de pessoas que me fazem mal. Liberdade das coisas que não preciso mais ter. Liberdade das ideias que não fazem mais sentido. Liberdade dos desejos impossíveis. Liberdade de um passado que não quero mais reviver. Liberdade pra fazer da minha vida aquilo que eu desejar fazer, guardando só a responsabilidade de não magoar os outros. Que a dor passe rápido, que o riso dure muito, e que minhas escolhas sempre combinem com meus reais desejos.

É o que desejo pra mim. E pra você também.

Feliz ano novo… Com vida velha, mas renovada em seus desejos. 🙂

14 comentários sobre “Ano Novo, Vida Nova?

  1. Você sempre tão sincrônica, esperançosa e dando significado às coisas mínimas da vida…

    A gente vê no seu rosto que as coisas não estão sendo fáceis, mas desejo que 2011 seja um ano diferente pra você. E que a sensação, daqui um ano quando você voltar a escrever sobre esse assunto aqui, seja aquela que a gente sente quando está com muita sede e toma uma garrafinha inteira de coca-cola gelada – doce e refrescante.

    Te amo sempre, linda e doce Karina! Beijos…

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  2. Cachorra, vc demora a escrever, mas sempre acaba do mesmo jeito, me fazendo chorar por espelhar as coisas que não tenho coragem de dizer pra mim mesma…
    Te amo muito, miga linda e especial, e que seu ano de 2011 seja de descanso e alegria!!!!
    Desejo meu e do moleque. :)))))

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  3. Eu sempre venho no seu blog dar uma olhada nas coisas, confesso que me identifico MUITO com os textos e com esse não foi diferente. O ano esta acabando e pra minha vida foi um desgaste só, problemas e mais problemas. Porém, estou viva e cheia de coisas pra realizar, não posso perder tempo. Então que venha 2011.
    Bom ano novo pra voce e seus leitores.

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  4. Ei Ká…

    Já pensei muito sobre isso tb e confeço q tenho imensa vontade de começar tudo do zero de vez em qdo. Mas certas coisas não dependem só de mim, na verdade, a justificativa mais correta é que algumas coisas dependem muito de mim e por isso não posso chutar o balde.

    Pretendo que neste ano algumas coisas sejam de fato novas, e melhores, não só para mim, mas para vc tb.

    Tudo de bom, sempre!

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  5. (…) desejando uma vida fácil e nova que nunca virá…
    Viver dá um trabalhão, não é amiga? Ainda bem que também implica em ter momentos bons e pessoas queridas pra contrabalançar…
    2010 foi difícil, mas passamos, e aprendemos… E aprenderemos em 2011, 12, 13, 25… Que esse ano novo seja de novos e possíveis sonhos, além de muita saúde e paz…
    Amo você, amiga linda!

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  6. Que ótima reflexão! Há alguns anos venho fazendo esse movimento de buscar a felicidade em “tabletes pequenos e diários” e tem dado certo. Fases difíceis, dias felizes, momentos importantes e inesquecíveis, assim é a vida! Depositar expectativas em uma grande coisa quase sempre leva à frustração e à infelicidade, tô fora!!!

    beijo grande e feliz 2011!

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  7. COMO SEMPRE BOAS SURPRESAS POR AQUI!!! LINDAS PALAVRAS QUE CAEM COMO LUVA..MESMO QUE OS PROBLEMAS E AS NÃO SEJAM OS MESMOS!!!
    QUE VOCÊ TENHA MUITA LUZ NESSE ANO…TENHO CERTEZA QUE AO FINAL DE 2011 VAI PODER COMEMORAR POR TER DETERMINADO PRA VOCÊ MESMA NÃO SE ACOMODAR NAS RECLAMAÇÕES E INSATISFAÇÕES, MAS SIM BUSCAR A MUDANÇA QUE ESTÁ EM VOCÊ MESMA!!!

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  8. Li seu psot me identificando em cada linha, sim, 2010 foi um ano dificil e não sei o seu, mas 2011 não começou de maneira como eu esperava…
    Acho que no fundo a gente tem a esperança de que ao espocar dos fogos tudo o que foi ruim vire cinza e um horizonte colorido surja entre as nuvens…
    No mais, viver um dia de cada vez, esperando a vida nova que tanto precisamos! rs

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  9. Eu só posso desejar que você consiga tudo o que for de melhor neste no. Talvez, contudo, você possa praticar o Desapêgo, Investir na Perda, e viver apenas um dia de cada vez. Não vai dar pra alterar o que ocorreu há meia hora atrás, assim como não vai dar para saber o que vai ocorrer daqui há pouco. Pense nisso. Pelo menos eu, fazendo isso, não perco meu norte, sei o que espero , faço o que é possível, ttento sempre o melhor, nunca atento contra ninguém, mas não conto que exista um momento à frente, assim como não me apego a nada que já passou. Desejo o mesmo para você. Um abraço amigo.

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  10. Nossa, verdadeiramente tocante! Eu sou das pessoas que teimam em começar do zero e todas as vezes que começo novamente peço a Deus que seja a última vez. Viver os sonhos da realidade, viver o que é possível para mim, é isso em 2011. E que seja assim para sempre.

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  11. Parabens pela sua sensibilidade.
    Suas palavras, sua forma em lidar com elas, exala essa sensibilidade.

    Estou querendo dar uma altualizada no meu blog e colocar seu blog naminha lista de blog’s que leio.

    Conheci seu blog ano passado (ou no retrasasdo? Já não me lembro). E gostei muito de quase tudo que li.
    Até mais, flor.

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