Queridos noivinhos,
O velho Freud, grande entendedor da alma humana, afirmava que o desejo era a energia que fazia o motor do instinto de vida funcionar. Sem desejo, não há vontade de vida, não há motivação, não há razão pra continuar.
O velho Nelson Rodrigues também falava de desejo, de paixão. Sem paixão, dizia ele, não é possível nem mesmo chupar um picolé. A vida sem paixão, sem desejo, é uma coisa muito triste. Sem graça. Sem mudança. Sem vontade. Sem alegria.
Por outro lado, sabemos da crueldade do desejo quando ele fica grande demais e nos toma. Vocês se apaixonaram um dia, sabem do que estou falando. A paixão é fogo que nos consome, nos queima, nos atrai tanto quanto nos repele, que nos deixa bobos e sem rumo.
O desejo pode nos tornar alguém possessivo, ciumento, inconsequente, paranoico… Obsessivo. Tal como o remédio, a diferença entre o veneno e a cura está na dose. Tal como o sal que colocamos na comida, o desejo precisa ser dosado. Sem ele, não tem sabor; com muito dele, tudo fica amargo e rouba todo o brilho do prato servido.
Não estou falando apenas de sexo, de atração física. Isso é muito importante, e pode, muitas vezes, sustentar um relacionamento quando outros aspectos vão mal, até que tudo se equilibre novamente. Mas paixão, desejo, vai além disso. O desejo que se expressa no corpo, no toque, no tesão pode começar em outros caminhos. As pessoas que amam sabem que o desejo que termina no corpo, começou por dentro, na ânsia de encantar-se com a alma de alguém, com a inteireza de alguém.
Noivinhos, eu espero que vocês sempre se desejem. Desejem ardentemente esperar o final de um dia cheio de trabalho para se encontrarem. Desejem muito contar um pro outro algo que descobriram, que pensaram, que sofreram. Desejem bastante contar com a companhia do outro pra ver um filme, ou passear, ou aprenderem algo juntos, ou curtir uma viagem, ou comer algo que gostem. Que desejem dividir a vida, dos aspectos mais bestas do cotidiano aos momentos de grandes e completas mudanças.
Que vocês mudem, sim, que ninguém pode ficar parado. Mas que a cada mudança, física ou de personalidade, vocês consigam surpreender um ao outro e morrer de desejo novamente, e assim continuarem juntos. Muitas vezes, esse processo não é natural; é preciso alimentar a chama, colocar mais lenha, mais carvão, abafar para maneirar o fogo, encher de vento para a chama reacender. Se for preciso pensar e trabalhar para que o desejo volte… Façam.
Em inglês, se diz que alguém “cai” de amor. Paixão é isso. Ela quebra nossos joelhos, nossa postura arrogante e tão segura de si, e nos coloca deliciosamente prostrados diante de uma outra pessoa que, pela confiança, merece a nossa entrega. O desejo cega, mas também pode nos abrir os olhos. A paixão nos faz aptos a ceder quase tudo pelo desejo de estar, tocar, ter, fundir-se com a outra pessoa.
Uma pessoa apaixonada não conhece dificuldade, nem desafio. Enfrenta tudo, vai a qualquer lugar, fica sem dormir, suporta coisas que ninguém imaginaria. O desejo é força!
Portanto, que não lhes falte e nem lhes sobre desejo, queridos noivinhos. Assim, o amor de vocês será sempre, sempre cercado desse instinto de vida que nos faz seguir em frente.
Até a próxima!