CIRANDA DO A

ANIVERSÁRIO

Dia desses fiz 31 aninhos. Não fiz nenhuma festa, embora tenha participado de comemorações espontâneas, presente dos meus queridos que me amam e estão trabalhando duro pra eu entender que estou em idade mais que boa pra fazer milhares de coisas legais, pra sonhar coisas diferentes.
Mas o fato é que, no dia do meu aniversário, eu pensei que, aos 30 anos, eu descobri uma coisa maravilhosa. A vida pode ser extraordinariamente, especialmente, maravilhosamente, incrivelmente simples. Simples, simples, simples assim, simples de tudo. A simplicidade não é sinônimo de desleixo, nem de desesperança, nem de covardia, nem de conformidade. A simplicidade consiste em simplesmente escolher aquilo que a gente pode escolher pra ficar bem e feliz – nem mais, nem menos – e não sofrer com o que poderia ter sido, com o que não escolheu, com o que deixou pra trás. Deu certo, ótimo, vamos comemorar. Não deu, vamos de novo, depois de tomar um belo sorvete de morango com calda de chocolate quente pra recuperar as energias. Entre dois caminhos, sempre escolha aquele que parece mais simples. Entre um tecido com milhares de estampas complicadas e um liso, fique com o liso. Fique com o natural, com o normal, com o fácil. Simples assim. Foi dolorido, mas eu aprendi! E, com certeza, perceber isso foi o meu melhor presente de aniversário.

ATADURAS

Ando muito atrapalhada – quebrando copos, tropeçando, caindo da cama, e até consegui uma considerável queimadura de segundo grau na barriga – tudo porque estou destraída, estabanada, atrapalhada. Me sinto assim, como uma aranha que trocou de pele e ainda precisa se adaptar bem com a nova casca. Era pra ser terrível, mas até que eu estou me divertindo. Simples.

ADEUS

A reforma aqui em casa está acabando, já está quase tudo de volta no lugar. Finalmente consegui arrumar minhas coisas, e aproveitando o cheiro de coisa nova que rola no ar, eu disse adeus pra muitos papéis e coisas que não queria mais ocupando espaço nos meus armários e no meu coração. Mas… O que a gente faz com tanta coisa nova, até que elas fiquem velhas? Foi no show do Paulinho Moska, no último sábado, que eu entendi:

“Vamos celebrar
Nossa própria maneira de ser
Essa luz que acabou de nascer
Quando aquela de trás apagou

E vamos terminar
Inventando uma nova canção
Nem que seja uma outra versão
Pra tentar entender que acabou

Mas é tudo novo de novo
Vamos nos jogar onde já caímos
Tudo novo de novo
Vamos mergulhar do alto onde subimos…”

Mais do que novidades, o assunto deste poema são os ciclos. Sim, os ciclos! Sei que já escrevi sobre eles antes, mas até isso é cíclico… Porque é assim que funciona. Eu me sinto nova de novo, mas de um jeito bem conhecido. Acho que estou recuperando coisas que perdi, mandando embora outras que achei que eram minhas, e recebendo outras que eu nem sabia que existiam. Vida-morte-vida. Voltei a ler velhos livros, a ouvir velhas canções. Comprei os boxes de Arquivo-X, voltei a comer pipoca doce, baixei um disco inteiro da Madonna, li de novo o “Como Água para Chocolate”, voltei a ir à igreja todo domingo, voltei a estudar Psicologia, e voltei a falar com amigos que eu tinha esquecido como eram legais. As paixões, são novas, ainda bem. Mas os amores… Esses são antigos. E é tão bom quando o ciclo termina… E é tão bom quando o ciclo começa… Tão bom.

AMIGOS

Por aí, as pessoas dizem muitas babaquices sobre amizade, inclusive o papo de que ela, pra ser verdadeira, tem que durar pra sempre, e que é na adversidade que se conhece os verdadeiros amigos.
Na verdade, amigos são pessoas. Pessoas comuns, como nós. Pessoas, apenas pessoas. E não é preciso mais que isso pra fazer uma boa amizade ou uma boa vida do lado de alguém.
Sou uma pessoa, tenho muitos defeitos. E um deles é o de gostar demais da minha concha quando estou pensando, refletindo, mudando. Passo por fases de terríveis silêncios, de cara amarrada, de distração quase que completa. E tem sido assim nos últimos tempos.
Mas sou uma pessoa que tem amigos. E o mais legal é saber que as pessoas que escolhi para serem amigas ( ou que me escolheram, sei lá quem escolheu quem ), não desistem de mim. Elas não desistem! Mesmo quando eu sumo, quando eu não quero atender o telefone, quando eu não quero dividir, quando eu não quero sair, quando eu quero isolamento, quando eu sou chata e esquisita, essas pessoas estão lá. Elas não desistem, elas aparecem, elas telefonam, elas me irritam,tocam a campainha, lotam minha caixa de e-mails, me abraçam, me beijam, me amam, me esperam, tentam de novo e de novo.
Então, eu vou ser mais uma a dizer uma tremenda babaquice sobre amizade, mas que tem feito muito sentido pra mim: amigo é aquele que não desiste da gente, mesmo quando a gente desiste de tudo. Obrigada a quem não desistiu de mim. 🙂

ALUNOS

Quem trabalha com educação sabe como é irritante ser professora. A todo o tempo tem alguém, algum catedrático chato e prepotente, querendo dizer o que você tem que fazer pra ser uma boa professora.
Eu passei tempo demais ouvindo e estudando essa gente. Alguns poucos falaram coisas interessantes. Outros muitos falaram insanidades que todos fingem acreditar. E, enquanto eu estava preocupada com o que esse povo tem pra dizer, eu acho que tinha esquecido de ouvir os maiores interessados – meus alunos.
Sim, meus alunos! Eles me dizem tantas coisas importantes e lindas todos os dias. Parei pra ler posts antigos e vi o quanto eu era apaixonada por eles e por tudo que eles faziam.
Pois então, deixei os livros pra lá e voltei a ouvir as crianças, e, BUM! me apaixonei de novo por eles. Lindos, fofinhos e cheios de sabedoria, tenho me divertido muito sendo professora. Tanto que, mesmo sabendo que é uma delícia ficar de férias, estou com uma saudade danada deles…

ARTE

Não sei se já contei que virei artista. Não que eu faça alguma coisa que preste, nem estou preocupada com isso. Mas virei artista no sentido produtivo e criativo da palavra. Além do meu curso de Arteterapia e de pintura, as minhas vivências pessoais com Arte me levaram a ver que o mais importante não é expor a arte, e sim criá-la. É isso que faz o artista sentir-se tão pertinho de Deus e da felicidade perfeita.
Pois bem, nisso tudo, eu descobri o laranja. O laranja que é a cor do meu quarto, da minha casa, dos meus cadernos, dos desenhos e pinturas que eu faço. O laranja é lindo! Perfeita união da luz intensa do amarelo com a paixão intensa do vermelho – um guiando e equilibrando o outro.

ASSUMIR

Fui procurar uns psicólogos por aí, porque disseram que pessoas estressadas e macambúzias como eu andava precisavam fazer terapia. Pois bem, eu pensei, acho que é hora de voltar. E fui.
Procurei três. Três linhas diferentes, três cabeças, três bons profissionais. E os três me disseram basicamente a mesma coisa.
Muita gente precisa de terapia pra ter um apoio, alguém pra conversar. Outros precisam porque são dominados pelo acaso e pelo seu inconsciente. Outros precisam porque não são capazes de agir, apenas reagem a tudo e a todos. E outros precisam porque não conhecem o mínimo do mínimo sobre si mesmos. No meu caso, eu não preciso de terapia. Eu preciso simplesmente assumir. Assumir quem eu sou, o que eu gosto, assumir meus momentos, minhas escolhas.
Nenhum deles quis me atender. Na hora, fiquei triste. Depois, fiquei feliz. E o melhor foi que assumi a minha felicidade.

ALIANÇA

Falando em assumir, já fazem quase três anos que namoro uma pessoa muito, muito bacana. Enfim, um cara legal, calmo, que me respeita, que é divertido. Alguém com quem converso horas e horas sem perceber, que me abraça, que olha pra mim com tanta ternura que parece que nutre, que hidrata meu coração, como uma pele ressecada que recebe um creme cremoso e cheiroso. Alguém honesto, inteligentíssimo e verdadeiro.
Claro, ele tem seus defeitos. Não são poucos, não são muitos. Mas nenhum desses defeitos poderia fazer com que eu deixasse de gostar dele, de querê-lo como meu companheiro, meu amante, meu amigo.
Acima de tudo, esse moço que eu namoro tem um enorme potencial de mudança. Ao contrário da maioria das pessoas, ele ouve, pensa e muda. E com isso, me inspira a falar, ouvir, pensar e mudar também. Eu gosto da namorada que eu sou quando estou com ele. E gosto do namorado que ele é.
É por tudo isso que o namoro tem ficado difícil, às vezes insuportável, até. Ficou difícil porque alguém tão bacana merece que eu troque a minha segura vidinha de filhinha da mamãe por uma vida de desafios a dois. Meus dedos, inchadinhos de tanto carinho, precisam de um novo anel. Um bem redondo, bem bonito, que simbolize tudo que ele é, que eu sou, e que podemos ser junto. O círculo, símbolo do infinito, do ciclo, da completude.
Acho que eu nunca pensei que ia me casar de verdade. Eu tinha vontade, mas não tinha pensado ainda a sério nisso. E a sensação que vem dá medo, mas é boa… Redondinha, redondinha. Algo assim, que é gerado e que produz mais de uma outra coisa que também começa com A…

AMOR. 🙂

9 comentários sobre “CIRANDA DO A

  1. Oi. Estava procurando Chapeuzinho Amarelo e vim parar aqui. Adorei sua página. A canção dos ciclos, a definição de amigos… têm muito que ver com meu momento atual. Encantada!;-)

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  2. O seu presente de aniversário. Leitura para quando estiver junto ao seu A predileto;-)

    ” : – Sou uma virtude conjugal
    advinha qual é?
    -Um jambo?
    um jardim outonal?
    -Não
    -Uma louca
    as ruínas de Pompéia?
    – Não
    – És uma estátua de nuvem
    o muro de lamentações?
    – Não
    – Ai, entonces que reino é o teu, darling?
    me conta te dou fazenda
    me afundo deixo o cachimbo
    me conta que reino é o teu?
    -Não
    mas pode pegar em mim que estou uma Sodoma…”

    (Manoel de Barros)

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  3. Inacreditavel. Há dois anos atras estava brincando na net quando achei esse site, depois disso adicionei entre meus favoritos, li tudo que foi escrito pra trás e desde entao mando todo mundo entrar pra conhecer. Enfim, resumindo, desde o texto sobre Reformas tenho entrado direto pra ver se você escreveu alguma coisa. Essa noite sonhei que tinha recebido um torpedo seu avisando que estava atualizado. Entrei e estava. Enfim. Coincidencia ou nao, vou continuar entrando sempre, sem esperar torpedos em sonhos..

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  4. Oi “Mafalda”,

    Adorei o seu blog. Ele é a sua alma, que é linda e esplendorosa. Amo ler almas.
    Vou indicar um texto seu para ser publicado num site que eu amo, numa seção chamada Vitrine Literária. Indicarei COMPANHIA,
    http://blog.mafaldacrescida.com.br/?p=214
    porque hoje lá no site dele, aliás, desde ontem há uma baita comemoração do Dia do Amigo. Muito bonita por sinal.

    É o site de um poeta, meu conterrâneo. Para mim um dos últimos românticos da face da terra, de uma beleza transcedental, daqueles que ainda cultua uma musa eterna.
    Falo do site do poeta maranhense Carlos Alberto Lima Coelho
    http://www.limacoelho.jor.br

    Beijos,
    Daniela Vieira Bacelar

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  5. Cuidado para não se machucar, e sobre todo o resto… Só posso dizer que é bom te ver de volta…
    A única vez que pensei em casar foi quando achei que estava com alguém muito especial… Sei que será mto feliz.
    Um bjo, bem gde.

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