ACEITAR… APRENDER

Essa história de amor é, antes de tudo, aceitar. Aceitar, do latim acceptare – “receber de boa vontade”. É bom quando você é assim, recebida com alegria, com vontade, com coração aberto, como se estivesse sendo muito esperada. Não como um acaso, uma surpresa, algo inesperado. Não como um estorvo, algo que de repente aconteceu, e trouxe problemas, e tem que ser contornado. Não como algo que tem que ser encaixado entre um compromisso e outro, algo que tem que ser espremido para caber onde não tem espaço. Não como quem precisa se adequar e se vestir de um outro jeito para merecer ser convidada.  Não como quem está quebrando um galho porque o outro não achou nada melhor pra fazer, ou ninguém melhor pra conhecer. Não com distração, de qualquer jeito… Mas ser aceita… Realmente recebida, como um presente, como algo suave e agradável… Aceita como você é. Ser aceita sem medo de ser acusada por seus defeitos. Sem receio de mostrar-se em todas os seus sucessos. Com seus tormentos do passado… Com todas as suas possibilidades de futuro. Ser aceita, ser curtida, admirada, observada com atenção… Ser degustada aos pedaços, com alegria, com festa, com respeito, com elevação… Com graça. E por isso, também aceitar. Aceitar, apesar de, por causa de, por ocasião de… Aceitar como quem é presenteada ao se doar. Aceitar conhecendo a si mesma, e também querendo investigar o outro por dentro, naquilo que realmente importa. E, nessa de ser aceita, entender-se como pessoa que merece ter amigos que te aceitem, família que te aceite… Um companheiro que te aceite, nas suas grandezas e pequenezas.

Essa história de amor é, depois de tudo, aprendizado. Aprender, em sua origem, apprehendere – “agarrar, tomar posse de”. A gente não agarra se não sabe abrir as mãos na hora certa… A gente não agarra se não sabe fechar as mãos na hora certa. A gente não aprende a amar se não se desprende de si mesma para abraçar o outro… A gente não aprende a amar se não deixa as mãos vazias do passado para enchê-las de futuro. Aprender, um esforço diário. Aprender, uma superação da antiga ignorância pela luz do novo conhecimento. Aprender, sempre e aos poucos, como quem devora o que está aprendendo, mas pelas beiradas. Aprender, desafio depois de desafio. Aprender, sendo fácil ou difícil. A gente não toma posse daquilo que não entende como seu… Mesmo que não seja. A gente não aprende se não se doa para ser de alguém. Aprender, todos os dias, e em todos os movimentos… Aprender, aquilo que traz a mudança… O crescimento. Aprender junto… Aprender sempre.

Na última semana, passei por um teste muito duro. Ao ver meu companheiro em uma cama de hospital, eu tive medo de reviver a dor de ser abandonada mais uma vez. Medo, essa emoção tão verdadeira, genuína… Forte. Medo, mau conselheiro, péssimo delineador de ideias e de fatos. Medo… Esse ladrão da esperança que eu tão lenta e duramente reconstruí. Mas foi aceitando, e aprendendo, que passei na prova. E hoje, posso dizer que amo realmente… Amo de novo.

Eu talvez já tenha sido amada antes. Mas talvez nunca tenha sido aceita de verdade. Talvez já tenha sido engolida, mas nunca aceita. E é maravilhoso merecer ganhar esse presente da vida.

E sei que estarei sempre, sempre aprendendo a amar. Mesmo que doa, mesmo que não seja fácil, estarei sempre aprendendo. Porque só ama quem não desiste… Nem de si mesmo, nem do outro.

Sou grata pelo teste. Grata aos que me ajudaram a passar por ele. E principalmente grata por saber que essa chama que eu carrego dentro de mim não se apagou… Nem se apagará.

7 comentários sobre “ACEITAR… APRENDER

  1. Quando soube, fiquei pasmo, depois penalizado, depois desequilibrado… Sem entender porque você, e justo você, tinha que passar por isso… Imagino o quanto sofreu…
    Mas você se mostrou novamente guerreira na mesma medida em que se mostrou serena… E tão cedo mostrou-se mulher de fé, de sabedoria e de amor.
    Karina, você merece muito amar e ser amada, intensamente… Porque é muito especial. Muito mesmo.
    Deus te abençoe e obrigado por compartilhar suas reflexões sobre o amor conosco. Tenho certeza que tem felicidade demais esperando por você bem ali, depois daquela esquina! 😉 É o que aguarda os que não são medíocres, e são corajosos.
    Beijos…

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  2. Karina,

    Muito bom saber que você está bem. Apesar de não te conhecer pessoalmente, sinto que és um ser humano diferenciado.

    Felicidades! E parabéns pelo blog e especialmente por esse tópico! Muito bom!

    Beijos

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  3. Sei da sua estória e até mesmo na dor, seus contornos são sutís, não sei quem você é…mas bom saber que você existe. É como a brisa, que não vemos mas sentimos acariciar nossa face , suas palavras tão verdadeiras, tão profundas tão cheias de sentimentos nos desperta de um pesadelo para dizer que a vida vale a pena, que pessoas especiais existem, sentimentos podem e devem ser valorizados porque tem muita gente nesse mundo que merece ser feliz, merece ser amada e uma delas é VOCÊ.
    Torço por ti!

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  4. Karina:
    Quê texto profundo e leve ao mesmo tempo, trata da aceitação e da doação de si de uma forma tão inesperada, simples e tão verdadeira. Não há como não se imaginar em situações.
    Imagino que só alguém que vive intensamente, tanto os momentos bons quanto os de teste, possa se construir e se reconstruir continuamente.
    Gostaria de ler seu texto numa palestra na casa espírita kardecista que frequento no dia 08/01/12. Tratarei da Missão dos Pais (e dos Filhos), explorando as possibilidades da aceitação de si e do outro e a empatia, baseando-me também em Rogers.
    Desejo que continue iluminada e se iluminando com as vivências!
    Um abraço apertadim,
    Paola

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